terça-feira, 10 de novembro de 2009

Pessoal, o Meller escreveu um conto que estou disponibilizando para a leitura da turma.


Arlindo esfregou os olhos com força. Voltou a olhar pela janela para confirmar. Não, não havia se enganado. Eles estavam ali. Juntos. Cochichando. Os rostos próximos, eventualmente se tocando. Ele falava. Ela ouvia e parecia sorver cada palavra num misto de prazer e euforia. Ela ria, agora. Não era um riso de quem acabara de ouvir uma piada ou qualquer afirmação despretensiosamente engraçada. Não! Era um riso sutil, carregado de volúpia. Agora é a vez dela. Coloca a mão na frente da boca e se aproxima dele como quem vai revelar algum segredo. O que estariam conversando? Juras de amor? Ou ainda não haviam chegando a esse ponto? Claro, devem estar combinando algum encontro para mais tarde. Só pode ser isso, pensou. Como podem? Arlindo se afasta da janela. Só parou quando encontrou a parede e caiu. Fica ali, olhando agora para o nada. Para o passado, quem sabe. Para aquele dia em que ela passou caminhando com a amiga pela rua enquanto ele só pensava em uma coisa: games on line e futebol com a gurizada. Quando estava em casa, passava horas na frente do computador derrubando invasores e salvando a humanidade dos covardes ataques de terroristas. Arlindo, o patriota. Fora de casa, no futebol, era Arlindo o gladiador. Com ele não tinha bola perdida. Era um pitbul, um voraz defensor da meta defendida pelo amigo Tonhão. Quando o atacante rondava o gol de Tonhão, Arlindo rosnava baixo e saía à caça do atacante. Se não achasse a bola, achava o adversário. Mas isso ficou no passado depois daquele dia. Dinha, esse era o nome dela, passou por ele, e só olhou depois que passou. Manja aquela olhadinha fatal, depois que a menina passa? Você fica ali, cara de bobo, mirando, comendo com os olhos e ela nem sinal de perceber. Quando você vai desistir, ela vira o rosto, delicadamente e olha como que diz: “eu sei que você está ai” Foi isso que ela fez. Arlindo, o patriota, o gladiador foi conquistado. Já faz um ano. 12 meses sem futebol e sem jogos on line com a turma. Só com ela. Tudo para ela: carinho, atenção, flores, cama, comida e roupa lavada. E agora ela estava ali. No fundo do quintal. Cochichando com......o Tonhão!!!!! Arlindo não agüentou. Voltou dessa viagem ao passado, levantou e quando olhou pela janela outra vez recebeu o golpe de misericórdia. Tonhão estava entregando um bilhetinho para ela. Um mísero pedaço de papel. Arlindo não se conteve. Saiu porta fora, como se estivesse à caça de um atacante habilidoso pronto para empurrar a bola para o fundo das redes. Os dois olharam assustados para ele. Não deu tempo para mais nada. Arlindo tomou o bilhetinho das mãos da amada e abriu. Queria ler, ver a prova, descobrir onde se encontrariam. Ou quem sabe seria até um poeminha de amor de Tonhão para ela. Enquanto lia, as lágrimas rolaram. Primeiro uma, depois outra, até que ele desatou num choro só. Largou o bilhete, onde estavam os nomes e os telefones da turma do futebol e abraçou os dois. Dinha olhou furiosa e disse: “agora você estragou tudo, acabou com a festa surpresa”. E saiu batendo o pé, fula da vida com Arlindo, o ciumento, e sua conclusões precipitadas.

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